Isso aqui é sobre dormir na praia. Sobre o vento que bagunça o cabelo e a
gente não tá nem aí. Sobre a lua e a areia e as luzes da noite. Sobre a pouca
roupa. Sobre fechar os olhos e puxar ar pra dentro como quem se sente inflar.
Sobre como essas coisas perderam espaço. Sobre como o sorriso ficou atrelado ao
gastar. E como eu sinto falta de ficar suada, de comer jaca, de andar descalço,
de viver sem medo de me desgastar ou de sentir dor ou de deixar de parecer bem.
Sobre não lembrar do protetor solar, do hidratante, do leave in, do renew.
Sobre dormir de cabelo molhado. Só porque eu quero. Sobre ter as unhas curtas, sobre
não fazer a raiz. Sobre o glúten, a gordura trans, a lactose, o sódio, a
glicose e a pressão alta. Sobre o salto alto, a cintura fina e o peito de
pomba. Sobre cachorros vira lata. Sobre cavalos. Sobre animais gostosos que
sentem o que a gente sente mais do que muita gente por aí. Sobre abraços sem
perguntas. Sobre beijo de manhã, sob a pele suada sem nojinho ou frescurinha.
Sobre se deixar tocar, sobre gozar devagar, sem lista de supermercado ou
rapidinha porque temos compromisso. Sobre como eu entrei nessa toca de coelho
que dá pro mundo que a gente chama de real e acabei me convencendo dessas
coisas todas que a gente chama de verdades. Se eu não sinto mais, ainda é de
verdade? Sobre como eu nem sorrio mais, a não ser que seja alguma publicação
cruel de humor negro por aí. Quero rir de felicidade, da sensação gostosa, do
bigodinho de leite. Quero amanhecer sem querer morrer agarrada à cama como se
não houvesse nada que valesse à pena no dia. Quero sentir que vale. Quero fazer
valer. Quero voltar pra casa. É sobre voltar pra casa. Sobre estar em casa. Se
sentir em casa.
Florence
Eleito em 2018 como melhor jogo mobile na premiação do The Game Awards, Florence é um conto interativo sobrer amor e vida criado pelo estúdio Mountains, inspirado em romances gráficos e webcomics “slice of life”. Aos 25 anos, Florence Yeoh se sente um pouco presa vivendo uma vida que está longe do que sonhou para si. Como vamos descobrir ao longo do jogo ela é uma pessoa criativa vivendo uma rotina nada inspiradora. Sua vida se resume a trabalho, algumas horas de sono, conversas com a mãe ao telefone e muito tempo nas redes sociais vendo pessoas com vidas aparentemente melhores que a sua (alguém se identifica?). Então, tudo muda quando ela conhece Krish Hemrajani, um violoncelista que toca no parque da cidade. Conforme Florence vai conhecendo melhor Krish, ela se sente inspirada ao ouvi-lo contar sobre seus sonhos em relação a carreia musical. E sua vida tão sem graça começa a ganhar cor enquanto o relacionamento avança. Aos pouco Florence se torna uma peça fundamental na vida de K
Lindo texto :)
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