Para não esquecer

 



O porta-retrato vazio é um lembrete silencioso que a hora certa pode nunca chegar. Os vincos que começam a se formar sutilmente em meu rosto diante do espelho, sussurram em meus ouvidos que o tempo não para, mesmo que eu recorra a todas as formulas mágicas disponíveis no mercado. O corpo agora range como uma velha porta enferrujada, diante do mínimo de esforço. Há dias que soa como uma criança birrenta, em outros como um velho resmungão. 

A cada novo dia o sol surge diante da minha janela com uma vista privilegiada para as montanhas e um lago de águas cristalinas em um tom brincalhão que ora é azul ora é verde, me convidando para desfrutar e desbravar o mundo, que eu insisto em negar com minhas cortinas grossas combinadas com um blackout. 

A gente se cobra tanto, espera tanto, que esse sentimento de fazer acontecer acaba nos deixando paralisados, a busca por uma conexão cada vez mais vazia, me fez, me faz uma mera expectadora de um reality show que a muito tempo já deveria ter sido cancelado.   

E não importa o que eu faça ou aonde quer que eu vá até o vento que bagunça meus cabelos contra a minha vontade surge me lembrando que apenas existir não basta, que não é preciso ter pressa, desde que haja um constante movimento, como o ritmo constante do pulsar. É como se tudo dissesse: a vida passa rápido demais para ficar esperando que alguém te  dê o papel de protagonista da sua própria história. 






Este texto foi escrito a partir da proposta do Desafio Criativo para o mês de maio de 2023, cujo tema é Leão: Para não esquecer. O Desafio Criativo é organizado todos os anos pelo Projeto Escrita Criativa, que está desde 2015 reunindo na internet pessoas que amam escrever. Para saber mais e participar, acesse Projeto Escrita Criativa

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