Não repare a bagunça


Entre, mas não repare a bagunça. É que não estou acostumada a receber visitas. Eu sei isso não é justificativa para tanta desordem, é que de uns tempos para cá não sei o que é ter algo ou alguém permanente na minha vida, tudo é tão passageiro, tudo dura tão pouco que cansei de me preocupar com a casa arrumada, com as  formalidades de fazer sala, preparar um café e quem sabe preparar a vida, achei mais fácil simplesmente não deixar ninguém entrar. 

 Aos poucos fui empurrando a sujeira para debaixo do tapete da sala. Os sonhos que eu já não sabia mais onde colocar resolvi guardar dentro do armário, quem sabe quando eu descobrir o que fazer com eles, eu os tire de lá, por enquanto que fiquem bem trancados. Com o passar do tempo aquele acúmulo de coisas não resolvidas jogadas pela casa, lembranças por todos os cantos, fotos de uma época em que a vida era tão simples, sensações, histórias, dores e amores. 

Toda segunda-feira eu acordava e dizia para mim mesma  que agora sim seria diferente, colocaria a casa em ordem, abriria as janelas, trocaria os lençóis, tiraria o pó e quem sabe compraria flores. Mas toda vez era a mesma coisa, já acordava cansada só de pensar na ideia. E lá se ia mais um dia onde a bagunça reinava e a procrastinação só aumentava, quando chegava em casa e tudo aquilo voltava a me incomodar eu desligava as luzes, em um ambiente escuro eu não via, não sentia, logo tudo aquilo deixava de existir, assim era mais fácil seguir em frente sem ter que lidar com tudo aquilo.

Mas aí, não mais que de repente você aparece aqui na minha casa como quem não quer nada, bate em minha porta e se convida para entrar, me deixando em uma situação delicada, daquelas que não há como recusar.  Então quando você entra me faz encarar tudo aquilo que me cerca, todos os motivos de em não convidar ninguém, me sinto mal, envergonhada e desejo mais que tudo ter tudo aquilo limpo, organizado, poder dar vida as paredes, mudar a decoração, ter alguém para tomar um café, almoços de domingo, ter sonhos espalhados pela casa e não mais poeira. 

E nesse momento me dou conta que não posso fazer isso sozinha, é tanta coisa, que nem ser por onde começar, nem como pedir ajuda. Mas quando percebo você já está com uma vassoura em mãos, um sorriso nos lábios e aquele olhar que diz por onde vamos começar? Agora eu sei que a casa independente de quando tempo leve voltará a ficar em ordem, e que sabe finalmente eu possa acender as luzes e chamar de lar...

8 Comentários

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  1. Bem, eu ia escolher um outro post, passear um pouco, admirar mais seu blog. Porém, fiquei presa já nesta postagem. As primeiras linhas chamaram minha atenção. Sua escrita é poética, leve e solta. Tão bom ter um lugar para chamar de lar, poder arejar tudo e mudar.
    Beijos.

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  2. Meu Deus! Você escreve encantadoramente! Parabéns! Amei o post! Bjos Blog Marinspira

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  3. Caramba, que texto lindo! Foi um dos melhores que eu já li! Tanto é que salvei nos favoritos para ler depois de novo. Já pensou em escrever um livro? E ah, adorei os ícones das categorias do blog <3

    Beijo,
    http://subscrevendome.blogspot.com

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  4. Aiii que texto mais amor, super leve e nada cansativo. Você escreve muito bem!
    Beijinhos ❤
    Blog Ale Canofre
    YouTube

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  5. Que texto lindo! A delicadeza das palavras, a singularidade e o modo simples com que você descreve tudo encantam. No fim, o amor é assim mesmo: singelo e simples.
    Esse é o tipo de texto que eu gostaria de ver em um livro. :D

    Beijos,

    Algumas Observações

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  6. Inspirador <3 Acho que todos nós temos nossas pendências, coisinhas que a gente vai deixando pra lá, por falta de ânimo para resolver, apenas sobrevivendo a mais um dia, a mais uma semana. Muitas vezes me sinto assim e luto quase que diariamente para sacudir a poeira e seguir em frente. Adorei o seu texto, falou bastante comigo! Beijos!
    Colorindo Nuvens

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  7. Uma vez, eu vi uma imagem no Facebook que retratava como era o relacionamento com alguém que já tinha sofrido num relacionamento passado. Do lado esquerdo, um rapaz tentava quebrar um muro, enquanto do lado direito a moça continuava construindo com os tijolos. Era uma metáfora de quando se sofre e é difícil baixar a guarda para um novo amor. Mas com paciência e carinho suficiente tudo se resolve no final.
    Fiquei muito feliz pelo resultado do texto.

    Com carinho,
    Conto Paulistano.

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@profanofeminino