Hoje eu sentei em uma das cadeiras novas da minha cozinha. A mesinha com
as cadeiras foi um daqueles móveis que dobravam de preço nas compras a prazo e
que tiveram que aguardar a vez – e a grana – pra serem comprados à vista.
Enfim, eu sentei enquanto o arroz secava na panela, justo naquela horinha do
dia em que é quase noite e o trânsito vai ficando louco com as pessoas
nervosas, querendo voltar pras suas casas.
Hoje faz cinco meses que criei coragem e mudei pro meu apê. No início era
uma falta de tudo que beirava a agonia. Faltavam toalhas, faltavam lençóis,
faltavam pratos e faltava energia no corpo pra lidar com tantos probleminhas
domésticos. Aprendi à esperar o inesperado. E o inesperado nunca se atrasou. Costumava
dizer que meu apartamento parecia um flat de rapaz universitário solteiro:
geladeira vazia e sem decoração. Lembro que quando a cama chegou – um dos
poucos móveis do primeiro mês – eu a olhava com adoração. De casal, porém
minha, só minha. Prometi pra mim mesma aquietar o coração confuso: nenhum homem
se deitaria nela.
Um mês depois de começar a morar sozinha, uma amiga veio me buscar em
casa pra sair. Eu estava triste com o fim de um rolo ruim: ela me levaria pra
esquecer. Num barzinho, me apresentou três de seus amigos. Não dei atenção.
Mudamos de bar, dessa vez com música ao vivo e os amigos dela também apareceram
depois. Já alta, com um humor melhor, um dos rapazes, alegre demais, pediu meu
telefone, ele parecia tão feliz... Me ganhou no sorriso. Era 06 de abril.
Uma semana de contato depois, ele manda mensagem perguntando o que eu
estava fazendo. Respondi: panquecas. Ele veio comer comigo. Sentamos na minha
cama – não havia cadeiras, lembram? – e conversamos tanto, mas tanto e tanto
que já eram duas da manhã. Deitados na minha cama, numa intimidade gostosa,
rolaram alguns beijinhos e ele foi embora. Acordei com mensagem no celular e um
sorriso enorme nos lábios.
No dia seguinte ele voltou. E dessa vez dormiu por aqui. E no dia
seguinte, e no dia seguinte e no dia seguinte. Na primeira noite em que
dormimos separados, a insônia me pegou: uma noite longa e inquieta demais. Pela
manhã, mensagens no facebook enviadas durante a madrugada: “Ei, você tá
acordada? Por favor, diz que está que eu vou dormir com você agora. Não consigo
dormir. Saudades”.
E é isso, quando eu vi a minha cama havia se tornado um lugar pra dois.
Mas não só a cama, meu guarda roupas – cheio de cuecas -, minha máquina de
lavar – com meias sujas -, meu banheiro – com tampa levantada – e minha vida,
uma loucura. O “eu te amo” veio antes do “namora comigo?”, que já nem era tão
necessário assim. Foi no cinema, muito romântico, porém estragado por mim e o
meu “cê tá falando sério?”.
Foram meses de adaptação, inacreditáveis de tão intensos. Enquanto o
mundo me dizia pra ir com calma, ele me dizia que pensava em um futuro comigo.
Eu sempre fui muito pé no chão, mas todos os meus instintos me diziam pra não
ter medo. Os pais dele foram calorosos, a minha mãe aprendeu a gostar dele,
mesmo de longe. E dia desses, num almoço, ele me perguntou se eu queria casar
com ele.
Sempre ouvi dizer que mil homens até formam uma casa, mas é preciso uma
mulher pra se fazer um lar. Mentira deslavada. Nosso lar foi feito com a
cortina que penduramos juntos, o ar condicionado que instalamos precariamente,
as compras tarde da noite no supermercado, os almoços em família com piadinhas
sobre o peso, mas, principalmente, nosso lar – assim como todos os lares que de
fato os são – foi feito de amor.
E digam o que quiser, não importa que o tempo seja curto. Eu não só acho,
como SEI, que almas gêmeas não se encontram, mas se reconhecem. E a faculdade
pode até estar uma loucura, meu cartão estourado e o preço a gasolina um
absurdo, o fato é que o meu jantar tá quase pronto, já anoiteceu e o meu amor
tá na loucura lá fora, fazendo da buzina um freio, com pressa de chegar em casa
pra ficar comigo, no lar que nós construímos juntos.
Que lindo, juro que enquanto lia eu imaginei a cena.
ResponderExcluirDe: Adolescente Para: Adolescente
aaah que coisa mais linda, sem palavras amei *-*
ResponderExcluirhttp://quaseinvisivel.blogspot.com.br/2013/08/seguir-em-frente.html