Haviam coisas que eu não podia te contar, partes de mim que você nunca
conheceu. Pessoas que passaram na minha vida e que se tornaram acenos discretos
em sua presença: amigos que não se aproximavam porque sabiam do seu ciúme. Eu
te esperava todas as noites em casa e meu dia se resumia à preparação para a
hora em que você chegasse. Como se eu, quem eu sou e todas as minhas outras
coisas, fossem só o making off de um grande show: nosso namoro.
Eu fui anulada, mas estava tudo bem. Eu não sentia falta de mais nada, porque
era amor. O mesmo sentimento absurdo que nos descrevem às vezes, eu tinha tudo
isso. Devoção, sacrifícios e todos os clichês sobre a pessoa certa. A receita
estava completa. Eu era uma motorista descuidada: continuei dirigindo enquanto
havia gasolina, mesmo ignorando as luzes do motor.
Qualquer um podia ver nossos planos desmoronando e você nunca foi capaz
de aceitar nada sem encontrar justificativas. Ouvi mais coisas maldosas saindo
dos seus lábios em um mês do que em todos esses anos de namoro. “Você mudou”,
“que música é essa?”, “quem são essas pessoas?”, mas nada era pior do que o
“divirta-se” carregado de sarcasmo. Isso nem combina com você, querido.
A ideia me seduziu. Ir ao cinema sem ter que perguntar se podia era quase
errado de tão incomum. Eu finalmente atendi ligações antigas que sempre
permaneciam ignoradas pra que o seu ego não fosse ferido. A sensação de traição
foi intensa, mas os meus planos individuais surgiram. E não havia mais espaço
pra você, porque aquele eu que
mantive guardado estava tomando posição. E eu descobri que não precisava da sua
autorização pra ser eu mesma. Completamente.
Claro que te ver seguindo em frente ainda é doloroso. Você foi meu futuro
alternativo. Foi a vida que eu vivi enquanto guardava a minha. É quase como se
alguém estivesse tomando meu lugar, depois que o deixei vago. Mas sei que não é
assim. É só que você é inseguro demais pra lidar com alguém que tenha vida
própria, precisa de alguém que viva por você, assuma suas responsabilidades e
que não conheça o significado da palavra “compartilhar”. Não estou perdendo nada.
Mas, enfim, todos temos nossos próprios carmas. Decidi que você não seria
o meu. Sabe as esposas que jogam o primeiro punhado de terra sobre o caixão dos
maridos? Esse texto é meu último ato solene sobre nosso namoro. É a minha
honestidade, sendo entregue a você. Não quero te ofender e nem vir com clichês
sobre a volta por cima e coisas assim. Só quero que você conheça a parte de mim
que tornou oculta. Eu mudei mesmo, mas não sou alguém que você costumava
conhecer e que mudou, sou alguém que você só está conhecendo, por completo,
agora.
Oi Alexya!
ResponderExcluirÉ muito chato quando um relacionamento cai na mesmice. E não falo só sobre namoro não, tanto amizades, como casamentos, estão terminando absurdamente.
Acho bacana quando a gente consegue sair consciente de algo assim. Não é bom continuar insistindo naquilo que não nos faz bem e só traz dor-de-cabeça.
Você escreve muito bem! Gostei muito de ler esse texto e só tenho a te parabenizar! Escreva mais vezes que voltarei sempre pra te acompanhar, hahaha :}
Obg, amanda! Vc disse tudo. E fico feliz pra caramba qdo as pessoas se identificam. Eu escrevo no Profano feminino todos os sábados. E dá uma olhadinha nos outros textos q já escrevi - só tenho q lembrar de assinar rsrs. Talvez você goste tbm. Obg, de coração.
ResponderExcluirhttp://www.profanofeminino.com/2012/09/consciencia.html
ResponderExcluirhttp://www.profanofeminino.com/2012/09/menina.html