Redemoinho em dia quente



Escritora conhecida por seus cordéis, Jarid Arraes estreia no gênero dos contos em Redemoinho em dia quente. Focando nas mulheres da região do Cariri, no Ceará, os contos de Jarid desafiam classificações e misturam realismo, fantasia, crítica social e uma capacidade ímpar de identificar e narrar o cotidiano público e privado das mulheres.

Uma senhora católica encontra uma sacola com pílulas suspeitas e decide experimentar um barato que a leva até o padre Cícero, uma lavadeira tenta entender os desejos da filha, uma mototáxi tenta começar um novo trabalho e enfrenta os desafios que seu gênero representa ― Jarid Arraes narra a vida de mulheres com exatidão, potência e uma voz única na literatura brasileira contemporânea.

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Aviso de conteúdo: Este livro aborda temas como homofobia, violência doméstica, abuso sexual e racismo. 


Esse é o segundo livro de Jarid Arraes que leio,  e posso afirmar que ela tem uma escrita ímpar, que nos conduz através de suas palavras para outras realidades e nos faz refletir sobre diversos temas de uma maneira muito natural seja através dos cordéis como é o caso de "Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis" ou contos, que é o caso deste livro. Ao longo de 152 páginas de Redemoinho em dia quente temos 30 textos divididos em duas partes — Sala das candeias (parte I) e  Espada no coração (parte II) — onde Jarid narra a história de mulheres da região do Cariri, no Ceará. 


Não há longe de onde vim diante dos olhos de quem não sou. 


A primeira parte do livro é composta pelo contos: Sacola, Cinco mil litros, Moto de mulher, Boca do povo, Asa no pé, Marrom-escuro, marrom-claro, Mais iluminada que as outras, Telhado quebrado com gente morando dentro, Cachorro de quintal, Bordado em branco, Amor com cabeça de oito, Got a flamin’ heart, can’t get my fill, Viração de tempo, Gilete para peito, De melhor qualidade, Voz, Até as nove e As cores das fitas.  Esta ao meu ver é a parte mais intensa deste livro, então se prepare para uma leitura cheia de altos e baixos que irá lhe despertar os mais variados sentimentos. 


Eu na reza da ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres. Pensando o que significava ser mulher na época de Maria, se era só engravidar do Espírito Santo e parir, ou se José também lhe puxava pelo braço e soltava xingamentos quando o dia estava num pé ruim.


Já na segunda temos: Despedida de Juazeiro do Norte, Ligar seu fogo lá dentro, Gesso, Nheim nheim, Santa com a base marcada, Os fatos dos gatos, Graça, Não tem onça na serra, Beata princesa, Novo elemento, Como é ruim cair num buraco e Olhos de cacimba. Aqui ainda temos uma certa urgência nas palavras e uma intensidade, mas de uma forma mais branda se comparada com a primeira. Vale lembrar que o momento de leitura é algo único e cada texto conversa de maneira diferente para cada pessoa, então provavelmente sua experiência pode ser totalmente diferente na intensidade que as palavras vão ao seu encontro. 


Hoje percebo que se apegar ao seu eu destruído é mais comum do que os outros pensam.


Não há dúvidas para o talento de Jarid, porém, apesar da sua maestria com as palavras este não foi um livro que amei. É um bom livro, os contos que o compõem são muito bem trabalhados e nos surpreendem e emocionam do início ao fim, mas grande parte acaba sendo ofuscando e não despertando tanto a atenção. Entre os que se destacaram ao meu ver temos: “Voz”, “Telhado quebrado com gente morando dentro”, “ Cachorro de quintal”, “ Cinco mil litros”, “Até as nove” e “Sacola”. 


Redemoinho em dia quente é um livro curto o que faz com que a leitura flua de maneira rápida, porém, isso não significa que as histórias ali presentes são nada fáceis de ler, muitas vezes é preciso tempo para digerir cada conto e boa parte deles apresentam alguns gatilhos que nos pegam de surpresa. Não sei se foi algo intencional ou se a autora simplesmente retratou uma realidade que nos passa despercebida, mas em vários momentos ela nos leva para situações de desconforto e nos faz refletir sobre realidades muitas vezes que negligenciamos por serem tão diferentes da nossa. 


Em resumo Redemoinho em dia quente é um bom livro, mas não é um livro para todos.


Confira também: Sobre o que Estava Tentando Dizer | Controle | Carta à rainha louca | O peso do pássaro morto

1 Comentários

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  1. Oie, tudo bem?
    Não conhecia o autor Jarid Arraes. As vezes me sinto muito culpada por não ter tantos livros nacionais como deveria. Percebi pelo seu texto que cada narrativa trás diversas emoções, mas, entendo que são temas que devem ser abordado e falado com mais frequência na literatura. Vou colocar na minha listinha com certeza, principalmente por aborda o tema racismo.

    Até mais! 💜
    https://www.relatosdalih.com.br/

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