Vox


O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade. Esse é só o começo... Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir. 
...mas não é o fim. Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.
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Aviso qualquer semelhança com a realidade é apenas uma simples coincidência, ou talvez não... Leia e tire suas próprias conclusões. 

Ambientado em um futuro não tão distante e comparado com o Conto da Aia (romance distópico escrito em 1985, pela canadense Margaret Atwood), Vox é o romance de estreia da autora Christina Dalcher. Este livro é uma distopia que aborda politica, liberdade de expressão, empoderamento e luta feminina. 

Vocês não fazem ideia, senhoritas. Absolutamente nenhuma ideia. Estamos a um passo de voltar à pré-história, meninas. Pensem nisso. Pensem onde vocês vão estar, onde suas filhas vão estar, quando os tribunais atrasarem os relógios. Pensem em expressões como "permissão do cônjuge" e "consentimento paterno".Pensem em acordar um dia e descobrir que não têm voz em nada.
 
Segundo Louann Brizendine, neuropsiquiatra da Universidade da Califórnia em San Francisco, em seu livro O Cérebro Feminino, escrito em 2006 ela fala sobre o facto de uma mulher utilizar cerca de 20 mil palavras por dia enquanto o  homem apenas sete mil. Agora imagine como seria passar de aproximadamente 20 mil palavras diárias para apenas 100? E como se não bastasse essa pequena limitação acrescente a lista ser afastada de todo tipo de comunicação seja ela por gesto, escrita e até mesmo da leitura.  Assustador não é mesmo?

 Tento me convencer de que não é culpa minha. Eu não votei no Myers. Na verdade, eu não fui votar. 

Este é o cenário que A Dra. Jean McClellan vivencia assim como milhares de outras mulheres nos EUA. Tudo acontece de maneira "rápida" ainda que os sinais vinham sendo compartilhados por todos os lugares, mas pareciam extremistas demais para se tornarem realidade. Após a eleição de um governo de extrema-direita ultra conservadora nos EUA, as mulheres, e todos aqueles que fogem do ideal de “Puros”, perderam seus direitos. Durante a leitura vemos como as mulheres foram reduzidas apenas ao papel de  mãe e esposa, os homossexuais são tratados como pessoas que precisam ser curadas, e tudo o que o governo deseja é voltar a ser um país com pessoas de bem, um lugar onde a família venha em primeiro lugar assim como os bons costumes.  


Não irei entrar em mais detalhes sobre o que esperar da leitura, mas adianto que assim como em o  Ódio Que Você Semeia, Vox   é uma tapa na cara, nos fazendo acordar para o que está acontecendo ao nosso redor e o que nós estamos fazendo sobre isso. É tenso e ao mesmo tempo surpreendente ver como uma obra de ficção pode ser tão  assustadora, por nos colocar em um cenário não tão distante da nossa realidade atual. 

Um dia minha filha deverá fazer compras e cuidar da casa, ser uma esposa dedicada e obediente. Para isso é preciso aprender matemática, não soletração. Ela não precisa de literatura. Muito menos de voz. 

A cada virada de página uma mistura de sentimentos é despertada, mas em especial a raiva. Durante a leitura a vontade é não parar até chegar ao fim e como os capítulos são curtos isso acontece tranquilamente, porém  ao mesmo tempo  precisamos pausar para respirar, reler,  digerir a história, refletir e continuar. 



Vox  prende nossa atenção já nas primeiras linhas, e apesar da leitura ser fluída da metade do livro para o final o ritmo fica um pouco mais acelerado e a trama principal acabada dando lugar a alguns novos assuntos que acabam ofuscando todo o potencial da obra, nos fazendo questionar a necessidade de acrescentar tais detalhes na narrativa e o motivo de tudo se resolver de maneira tão rápida, porém ainda assim Christina Dalcher criou uma história que perfeitamente entra na lista de leituras que todo mundo deveria ler.  

Eles não vão nos matar pelo mesmo motivo que não autorizam aborto. Nós nos transformamos em males necessários, objetos para ser fodidos e não ouvidos.

Obs: Dei uma pesquisa e pelo que entendi Vox é o primeiro de uma duologia, então talvez neste segundo volume tenhamos algumas respondas. Porém, é um livro que sinceramente apesar de um detalhe ou outro não senti necessidade de uma continuação, ou seja dá para ler sem ficar se preocupando com quando sai o próximo volume.  

Talvez tenha sido isso que aconteceu na Alemanha com os nazistas, na Bósnia com os sérvios, em Ruanda com os Hutu. Às vezes eu refletia sobre isso, como crianças podem se transformar em monstros, como aprendem que mata é certo e a opressão é justa, como em uma única geração o mundo pode mudar tanto até ficar irreconhecível. 

4 Comentários

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  1. Meu Deus, nem li o livro e já estou formigando de curiosidade só por causa da sua resenha. MUITO BOA! Eu não conheço a autora, mas certamente irei procurar sobre ela e suas obras pra saber mais.

    Adorei!

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  2. Nossa, sua resenha me deixou curiosa. Já vi esse livro, mas nunca parei para ler a sinopse e nada, e agora vendo a sua resenha percebi que estou perdendo um livro e tanto. Adorei.

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  3. Definitivamente Vox erá um dos próximos livros que irei comprar, junto com O Conto da Aia. Fiquei arrepiada lendo sua resenha, pois, por mais que pareça algo surreal, ainda existem pessoas que acreditam que o mundo deveria funcionar dessa forma (não que não seja assim em alguns lugares). É assustador, e pode não ser o tipo de livro que amamos ler, mas que n´so precisamos ler para tomar consciência.

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  4. Já tinha visto muito a capa desse livro por aí mas até agora não sabia sobre o que é livro era. Me surpreendi.
    Esse não é o tipo de livro que eu costumo ler mas é o tipo de livro que eu acredito que todos deveriam ler, sabe? O Ódio que Você Semeia também está nesse minha lista.
    Já estou indo adicionar Vox na minha wishlist!

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@profanofeminino