Carta à rainha louca


Mesclando linguagem histórica e uma crítica profundamente atual, Maria Valéria Rezende cria um romance sem par na literatura contemporânea, no qual mulheres mostram sua força frente às mais impensáveis repressões.

Olinda, 1789. Isabel das Santas Virgens, presa no convento do Recolhimento da Conceição, escreve à rainha Maria I, conhecida como a Rainha Louca. Em suas cartas, ela, tida por muitos como também lunática, conta os destemperos cometidos pelos homens da Coroa – e por aqueles que galgaram tal posto – contra mulheres, escravizados e todos os que se encontravam mais vulneráveis. Por meio dos tormentos passados por ela e por sua senhora Blandina, nossa narradora expõe o pano de fundo da colonização brasileira e da situação da mulher que ousava desafiar.

Com uma pesquisa histórica ímpar e usando o vocabulário próprio do setecentos mesclado a uma linguagem moderna, Maria Valéria Rezende recria com maestria a história de duas mulheres em um período conturbado do passado brasileiro. Como promete à rainha, Isabel conta “toda a verdade sobre o que em Vosso nome se faz nestas terras e a mim me fizeram.”

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Carta à Rainha Louca não é uma leitura fácil, ou melhor não será para a maioria das pessoas, grupo no qual me incluo. O primeiro motivo é a linguagem, que se assemelha ao estilo narrativo do século XVIII (18). O segundo é que a primeira parte da história é um tanto confusa, fazendo que a gente tenha que reler algumas vezes para tentar compreender o que realmente está acontecendo. E o terceiro são as desventuras em série que a protagonista Isabel das Santas Virgens vivencia, assim como às mulheres ao seu redor.


Maria Valéria Rezende recria a história de duas mulheres em um período turbulento do passado brasileiro, que ainda que se passe em outra época traz temas ainda atuais para realidade brasileira. As cartas escritas por Isabel das Santas Virgens à rainha Maria I, conhecida como a Rainha Louca, mostram como as mulheres eram tratadas e o destino cruel que muitas eram submetidas fossem elas brancas ou negras, e apesar das mazelas e desventuras que afligem Isabel e sua senhora Blandina, o livro traz uma mensagem de esperança e fé. 

Senhora, tudo aquilo que nos aconteceu, para que possais compreender a desgraça que nos atingiu, não pouparei palavras, mesmo aquelas de que me envergonho, porque de outro modo não podereis compreender quão grande foi a injustiça que nos fizeram, não podereis compreender o quanto somos nós, as mulheres desta terra, usadas e abusadas por todos aqueles que detêm o poder e nunca, por nenhuma razão abrem mão dele, nem sequer por amor de nosso Senhor Jesus Cristo.


Como eu disse anteriormente não é uma leitura fácil, mas conforme vamos lendo vamos nos acostumando com a linguagem, e essa passa a não ser mais uma barreira, quanto ao segundo motivo a autora através das cartas de Isabel nos explica o motivo de sua escrita confusa incialmente. Quando nos deparamos com todos os infortúnios que a protagonista teve que passar fica fácil entender toda sua confusão e luta para mantar sua sanidade.

Disso talvez se tenha feito a minha loucura, pois, segundo me dizem, nenhum espírito de mulheres, salvo decerto as de linhagem real como Vós, é capaz de suportar o peso do saber

Ao finalizar a leitura é notável todo o talento, cuidado e pesquisa que a autora teve ao dar vida a esta história, principalmente pelo fato de ser inspirada em uma história real. E ainda que não seja uma leitura para todos acredito que é uma experiência única que vale a pena vivenciar!  Inclusive recomendo a vocês a leitura da entrevista da Maria Valéria Rezende ao Correio Braziliense, onde ela conta todo o processo de desenvolvimento deste livro. 


2 Comentários

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  1. Eu quero esse livro! Quero sim!
    Toda sua resenha me deixou instigada, curiosa, com o enredo e a forma que precede tudo! Preciso lê-lo!

    Blog Karolini Barbara | Instagram Karolini Barbara

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  2. Esse livro me impactou profundamente. Primeiro por ter como cenário a cidade de Olinda PE, onde nasci (embora nunca tenha morado) e vivi muitas aventuras. Depois, pelo talento da escritora, que consegue, com maestria, contar uma história que se passa no século XVI e fazer com que todas nós nós identifiquem os, hoje.

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@profanofeminino