Há algum tempo não escrevo. Não é nenhum
bloqueio criativo, é que eu não sei traduzir essa bola gigante e crescente
instalada na minha garganta. Logo as palavras não parecem ser suficientes, logo
as lágrimas invadem as letras e logo nem eu entendo o que digo.
O que eu sei é que as minhas unhas estão
roídas como não ficavam desde o ano em que prestei vestibular, e que tenho
olheiras profundas que não saem de mim por mais que eu durma e que tenho andado
aérea como se tivesse tomado meio vidro de Apevitin. E, é claro, eu sinto que
esse meu quadro clínico tem uma forte relação com você.
E, veja só, esse é mais um texto ruim,
cheio de frases desconexas que me descrevem insuficientemente. Não me adianta
um vocabulário vasto se todas as minhas palavras não dizem o que eu quero
dizer. Mas também não me adianta dizer apenas o que quero, pois faria menos
sentido ainda, um texto longo, onde só se lê seu nome. E não adianta me colocar
aqui, à disposição da caneta e do papel pra contar como estou ou como me sinto.
O que eu quero é saber de você. E me assusta porque nunca antes me fizeram
esquecer o quanto sou liricamente egoísta. E o quanto eu sou emocionalmente
frágil. E o quanto você foi e é importante.
Nesses dias estranhos, tenho dito
somente o oposto do que quero dizer. É uma pena você não entender nada de
psicanálise e deixar de enxergar o óbvio nas minhas negações. Eu não quero que
você pense que eu sou absurda, mesmo que eu o seja. Eu não quero que você pense
que eu me importo, mesmo que eu me importe. Eu não quero que você pense que eu
gosto, mesmo que isso esteja implícito em cada não que eu pronuncio.
Eu não penteio mais o cabelo, eu não
menstruo regularmente, minhas roupas não combinam e nunca mais usei maquiagem.
Eu ainda sei olhar nos olhos, eu ainda sou transparente, meu corpo ainda é
quente e sou eu, apenas eu, dentre todos os motivos do mundo, quem te faz
ficar. Mas a bola não sai. E não me adianta tossir, escrever ou negar. Ela vai
continuar aqui. Porque eu ando na corda bamba há meses e enquanto houver em mim
essa tensão esquizofrênica e esse medo de cair crônico, ela vai permanecer.
Seria mais fácil se você não fosse
corda, mas fosse ponte. Mais fácil se você fosse palpável e menos protagonista
das minhas fantasias. Seria mais fácil se você fosse mais chão e menos abismo
próximo. Seria infinitamente mais fácil se você fosse menos você, menos
mistério e, por você, menos amor. Tem sido difícil. Alguém devia ter me dito
que amar era estressante. Mesmo que não mudasse os fatos em nada, alguém devia
ter me dito.
Nossa, incrível! Eu amei cada palavra.
ResponderExcluirAMEI o texto.. Como vc escreve bem, Alexia. Parabéns. Bjs
ResponderExcluirhttp://radarmexeriqueiro.blogspot.com.br/
Obg, gente *-*
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