Não existem anjos nas paredes (Isso não é uma carta de amor)



Martim,

Eu ainda tenho alguma dignidade, trocados de esperança que guardei.Eu gostaria de ser grata,Martim, leve e não  ter sempre uma crítica, uma mágoa infantil a relatar ou um amor platônico mal resolvido.Mas minhas angústias não são rasas como meus olhos.Infelizmente.
Tenho a sensação irritante de que estou perdendo tempo, inerte na estrada, enquanto todos parecem evoluir, construir coisas maravilhosas.E eu aqui, esperando uma reviravolta, um novo fôlego.Estou despediçando tempo, na espera de o tempo passar e me trazer boas surpresas. Uma vez mais, fui traída, e o que eu mais temia aconteceu : os meses, que pareciam arrastar-se, fizeram-se anos e eu sinto que boa parte da vida passou sem minha presença.
Entenda Martim, sou melhor que isso, juro.É só uma fase que está durando minha vida inteira.

Me diz,porque é tão natural, quase mecânico, acreditar nos planos alheios e engavetar nossos próprios sonhos? Lembro-me bem de você encorajando-me enquanto escovava os dentes : ‘Pequena, você deveria fazer qualquer outra coisa, como por exemplo, utilizar suas habilidades de cantar Elis Regina durante o banho, ou abrir um vidro de palmito sem fazer força.Tudo menos continuar em um trabalho que mata a poesia dentro de você”.Eu não dizia nada, ficava apenas admirando sua pose sonolenta e querendo te dizer o quanto eu era sortuda por te ter por perto.Você estava mais do meu lado do que eu mesma,Martim.Sempre lá, afogando meu pessimismo com os seus sonhos de poeta romântico.Ver a simplicidade com que você desvendava a vida, fazia-me acreditar.Mas acreditar em quê?! Não sei Martim, não sei,simplesmente acreditar; você devolveu-me o dom da fé.
Era por isso que a vida tornou-se tão mais aceitável quando você entrou no mundo, porque eu tinha esperança em dias melhores, em carinhos mais sinceros, em um amor mais puro.Mas agora,você foi embora.E me fez desconfiar dos bons sentimentos ;colocou meus navios no mar, para logo em seguida afundá-los.
Não existem anjos nas paredes,Martim, agora eu sei.Nem as entidades angelicais permanecem conosco por muito tempo, então, porque raios eu acreditei que iria envelhecer com você?! Você reavivou a garota clichê que existia em mim.E agora eu me pergunto como recolho essa faceta e volto a viver como adulta.
Quando a poesia começou a fazer festa em meu peito, você dediciu partir para outra vida.Tudo bem, tudo bem, eu refaço meu orgulho e continuo.Aprumo e não peço mais desculpas.Eu já pedi demais.Por tantas coisas, pelo seus deslizes, seus abandonos às 2 da madrugada.Pedi perdão por erros que não cometi, pratiquei a absolvição apenas por você.Agora, preciso aprender a perdoar-me.

P.s: Hoje é Domingo, não se esqueça de lavar aquela blusa xadrez que você tanto gosta.

P.s 2 : Mais uma música romântica e eu irei enlouquecer.

Isabela Ribeiro.

3 Comentários

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  1. Que texto lindo Bela! :O
    Adorei a frase "Me diz,porque é tão natural, quase mecânico, acreditar nos planos alheios e engavetar nossos próprios sonhos?"
    Perfeito, adorei!
    Beijos,

    blog-meninama.blogspot.com

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  2. uau flor texto maravilho adorei parabéns flor bjs
    http://rodicasfemininas.com/

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