Caleidoscópio


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Decidiu viver em um caleidoscópio. Simples assim, ela decidiu e construiu cuidadosamente esse novo lar.Tratou de aparar todos os defeitos da antiga casa, empilhou os assuntos mal resolvidos em um canto e lapidou, com o zelo de um ourives, seu novo casulo.Calculou as rachaduras e achava que com uma pintura da cor ‘sou auto-suficiente’ daria para esconder as imperfeições e esta se adaptaria a qualquer luz ; não gostou muito da tonalidade e achou o serviço mal feito, cheio de brechas.Mas todos elogiavam, diziam que combinava exatamente com ela.Então, pra evitar tumulto, deixou do jeito que estava.Com isso acertado, questionava-se sobre o tamanho desse novo lar multicor.Optou por deixá-lo bem pequeno, espaço apenas pra um ; prefiria assim, como uma ‘quitinete de emoções’.Então, construiu paredes bem sólidas, que não seriam quebradas facilmente. Um pouquinho de orgulho aqui, um tiquinho de rancor lá e essa etapa estava concluída.
[..] 
Mas no meio da construção encontrou uma estrutura sólida, que não quebrava com marreta e não permitia polimentos.Algo selvagem em si mesmo.Essa pequena brita, coisa insignificante começou a atrapalhar sua edificação ; sempre impedindo suas empreitadas mais ousadas. Essa coisa rija, exigiu que ela construísse mais uma prateleira, apenas para resguardar uma tal de paciência.Inquilina difícil essa.E nesses pequenos quereres, os velhos hábitos começaram a minar a ilusória casa da menina.Tentou destruir a causa do retorno de seu passado, dos conhecidos defeitos, as verdades difíceis de aceitar. Fez, que fez.Até que descobriu que esse elemento exigente, desvairado era algo imutável, essência em si mesmo : era ela mesma.Espantou-se.

— Isabela Ribeiro.

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