Simpatias para beleza

Solitária conta a história de duas mulheres negras, Mabel e Eunice, mãe e filha, que moram no trabalho, um condomínio de luxo desses encontrados em qualquer grande cidade brasileira. Eunice, a mãe, é testemunha-chave de um crime chocante ocorrido na casa dos patrões. Mabel, a filha, constrói o caminho que leva não apenas à elucidação deste crime, mas a uma mudança radical na vida das pessoas que cercam as protagonistas. Em prosa ágil, intensa e assertiva, Eliana Alves Cruz constrói uma miríade de histórias que revolve o imaginário do trabalho doméstico no Brasil ― ainda tão vinculado à época escravocrata ― e o relaciona a questões contemporâneas urgentes como a pandemia, o debate sobre ações afirmativas e a luta por direitos reprodutivos.

Testemunho de uma crucial mudança de sensibilidade no espírito de nosso tempo, Solitária dá provas do quão urgente se tornou elaborar ― sem meias palavras ― não apenas a história, mas as sobrevidas da escravidão colonial. Ao fazê-lo, mostra como é possível enfrentar o desafio moral e ético de abordar essas experiências de vida sem replicar gratuitamente a violência que a sustenta nem reencenar nenhum pacto oculto de subalternidade. É um romance libertação.

📖Skoob 👍Avaliação Final:  ⭐⭐⭐⭐⭐  💳Onde Comprar: Amazon

Aviso de conteúdo: Este livro aborda temas como violência doméstica,  racismo, aborto, cárcere privado, trabalho análogo à escravidão e homicídio culposo.

Li este livro ainda no primeiro semestre do ano, mas precisei de certo tempo para digerir todo o seu conteúdo e por um bom tempo fiquei pensando em como escrever essa resenha. No fim cheguei a conclusão que  a melhor forma de fazê-la seria simplesmente a escrevendo, mesmo que eu não consiga passar metade do impacto que este livro tem. 

Mãe, a senhora precisa se libertar destas pessoas. A senhora não deve nada pra elas. Não tenha medo de encarar esse povo que nunca limpou a própria privada.

Solitária é um livro que pode passar despercebido para a maioria dos leitores, que muitas vezes se veem perdidos em meio a tantos lançamentos e livros virais da rede vizinha. Ele nos apresenta a história de mãe e filha, duas mulheres negras que possuem suas vidas marcadas por sociedade que manteve a lógica escravocrata, mesmo após a abolição.

Acho que às vezes a gente está numa situação ruim, mas se acostuma com ela e não quer sair porque é ruim, mas é conhecido.

Dividido em  três partes, a primeira é narrada do ponto de vista de Mabel (a filha), a segunda por Eucine (a mãe), e por fim temos a parte onde a história é contada pela perspectiva das Solitárias(o quarto de empregada, do quarto de porteiro, do quarto de hospital e do quarto de descanso). Talvez você já tenha ouvido algo como “Ah, se essas paredes falassem.” Bom, aqui elas falam, e o que elas dizem não é nada bonito, são aquelas verdades difíceis de engolir , mas que são necessárias.  

Foi preciso que eu crescesse para compreender que todo mundo tem uma história e que eu não podia cobrar coisas que ele nunca aprendeu a dar.

Eliana Alves Cruz criou uma narrativa envolvente e impactante que flui de maneira fácil ainda que dolorosa em alguns momentos, nos convidando a  testemunhar e refletir sobre as atrocidades que acontecem dentro  de condomínio de luxo em pleno século XXI, e ainda que seja uma obra de ficção  é impossível durante a leitura não traçar paralelos com a realidade, inclusive arrisco a dizer que provavelmente você irá se lembrar de vários casos reais que foram noticiados e até aqueles que se viram esquecidos e não ganharam as manchetes e que nos chocam ainda mais pela negligência.

 

Aliviada de não ser mais uma desempregada no Brasil do desemprego e dos bicos para sobreviver, mamãe ficou profundamente grata ao ser perdoada por algo que nem ela sabia o que era, e isso de certa maneira nos prendeu naquele escritório e naquela casa para sempre.

Mas não pense que o livro é feito apenas de momentos de dolorosos, a forma que a autora desenvolve a história nos deixa com um fio de esperança de que por mais difícil que uma situação pareça ela uma hora chega ao fim, mas para que isso aconteça não podemos ficar de braços cruzados esperando que as coisas se resolvam magicamente.  Afinal, precisamos ser a mudança que queremos ver no mundo!

Sei que eu, no fundo, não era um quarto. Eu era uma solitária. Exatamente, uma prisão, um lugar destinado a apartar do mundo e do restante dos viventes. 

Ah, se você deseja ter uma experiência mais imersiva recomendo que dê uma chance para o audiobook narrado pela própria autora. É uma experiência única, nos colocando como uma amiga que escuta as confidências da outra, daquelas que a gente muitas vezes não sabe como dizer em voz alta. 

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