Lar



Meu afilhado está em casa. Uma criança linda. Quando dorme. E eu quase ouvi o seu riso depois que escrevi essa última frase. Nos dias finais do que nós fomos, eu repetia, quase como um mantra, que desejava muito ser mais paciente. Agora essa criança corre pela casa, bagunça minhas roupas, come e derruba tudo o que for possível e, ainda assim, me arranca sorrisos sempre que pronuncia meu nome errado mais uma vez.
Meu cartão de crédito chegou semana passada. Eu me senti tão adulta. E feliz como uma criança por conta daquele pedaço de plástico. Até agora não comprei nada com ele. É que sempre ouço a voz da minha avó comentando pra ter cuidado com bancos e como quase tudo é uma armadilha pra comprar sua alma e etc. Ele mal saiu da minha carteira, com exceção de alguns minutos atrás, quando o tirei da boca do garotinho de quatro anos mais cruel que eu já vi.
Agora eu tenho uma caixa onde guardo as contas, louças que só eu lavo, uma agenda lotada de anotações e livros esquecidos pela minha falta de tempo. Meu Deus! Acho que eu virei uma daquelas pessoas que nunca têm tempo pra nada que não seja produtivo. Uma daquelas pessoas que chegam em casa e não têm ninguém pra conversar. Uma daquelas pessoas que compram gatos! E eu odeio gatos! (Desespero profundo). Mas tudo bem, antes de entrar em pânico e ficar adulta demais, tenho que limpar a crionça. Ele sujou minha casa inteira de chocolate.
O que mais me assusta, dentre todas essas coisas adultas demais, é que eu sempre imaginei que você não me deixaria passar por isso sozinha. Às vezes, depois da faculdade, entro em casa, acendo as luzes e imagino sua voz desafinada cantando “Home” pra mim. E, então, eu quase posso te ver sentado em uma das cadeiras do balcão, comendo o resto das panquecas que fiz ontem e reclamando de como o seu pai é autoritário.
Mas está tudo bem. Não é como se fosse o fim do mundo. Eu estou dando conta de tudo, minha casa é mobiliada nas cores que sempre quis, minha faculdade me diverte e, quando bate a saudade, eu sempre posso ligar pra minha mãe. Você não está aqui, eu sei. Nem sei onde você está agora. Mas eu não estou por baixo. Nesse momento, tem alguém lindo, cheiroso e incrivelmente macio me abraçando na cama: meu afilhado de quatro anos. As coisas têm sido mágicas à seu modo e pode até não ser muito, mas eu estou bem e isso tem bastado.
“Apenas saiba que você não está sozinha,
Porque eu vou fazer desse lugar um lar.”
Phillip Phillips

3 Comentários

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  1. adorei o vc fez... me fez pensar aqui tbm ... e oq eu tenho feito bastante é refletir ...
    bju



    http://aieuvivantagem.blogspot.com.br/

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  2. Adorei a história, bem detalhada é verídica ?

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  3. Fico feliz que vocês tenham gostado. É verídica até certo ponto. Realidade, com licença poética.

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