Menina



 Ei, menina, por que você não senta aqui? Faz tempo que eu ando com vontade de te dizer umas coisas. Lembro das coisas que você me contou sobre o modo como ele te magoou tantas vezes, seus olhos estavam profundos de olheiras e sua expressão dolorosa me cortava o coração. Eu o odiei instantaneamente por te causar tanto estrago, por não vir te pedir desculpas, por te deixar sem ao menos a determinação de um ponto final.
Vi os dias passarem diante de nós duas e você envelheceu bastante, em poucos meses. Qualquer um podia ver que a dor a fizera crescer. Como se, só então, você estivesse preparada pra lidar com a vida e os amores que viessem.
Com o tempo, os seus olhos foram ganhando uma vida que havia se extinguido. Eu te via sentada na porta do curso e todas as vezes que o seu celular apitava com um barulho irritante, um sorriso brilhava em seus lábios. Havia alguma coisa diferente. Seus dedos nervosos teclavam rapidamente. Definitivamente, algo estava acontecendo ali.
Mas você sempre foi reservada, contava-me apenas o que queria e eu ficava, como uma expectadora, torcendo pelo seu sucesso e pra que ele te fizesse feliz. Ilusão. Agora seus olhos me voltam gigantes de falta de sono, como no replay de um filme ruim. Ele não podia, não é? Não era capaz.
E você passa os dias no canto, com o olhar perdido como se não houvesse no mundo um motivo digno de um sorriso seu. Sei que vai parecer duro e profundamente insensível o que vou dizer, mas você não soube se amar. Andar pela vida se sentindo incompleta porque alguém inconstante se diz sua metade é uma burrice, menina.
Nós nascemos amadas. A vida nos faz perder com o tempo a certeza de que qualquer amor exista, mas não tem que ser assim. Amor é algo que vem de dentro e a felicidade é importante demais pra depender de outras pessoas, além de nós mesmos. Sei que agora tudo dói demais pra que você sequer pense que a culpa pode ser sua, mas a dor só vai passar quando você parar de esperar que o mundo te traga um príncipe encantado.
Ninguém precisa te salvar, ninguém precisa te fazer feliz, ninguém precisa curar sua carência. Você é que tem que se salvar, ser feliz e curar sua carência pra encontrar alguém que compartilhe o mundo com você. Tudo aquilo que é triste e profundo só fica bonito em quadros e poemas. A vida real pode ser colorida, só temos que aprender a lidar com ela.


Autora: Alexya Cristal, tem 18 anos e é estudante de psicologia. Apaixonada por Coldplay, Saramago, vodka de framboesa, homens cheirosos, textos insanos, cabelo cacheado, óculos do Bruno Mars, música leve e chocolate. Escreve sobre comportamento, amor, desilusão e ressaca. Essa, nem Freud explica. A partir de hoje, todos os sábados, ela vai falar um pouco a respeito de suas experiências. Espero que gostem.

3 Comentários

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  1. Só faltou ressaltar como é difícil a gente se amar as vezes, né. Não existe receita magica...

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  2. Adorei! O blog tá liindo! :)
    fashionforanyone.blogspot.com
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